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2025-05-14 12:52:20 -03:00
#+title: 1 -- Arquitetura de computadores
2025-05-14 11:36:15 -03:00
#+author: Blau Araujo
#+email: cursos@blauaraujo.com
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#+options: toc:3
* Objetivos
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- Compreender os principais componentes de um computador sob o modelo de von Neumann.
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- Primeiro contato com os registradores da arquitetura x86_64.
- Entender a relação entre o hardware e código Assembly.
- Criar um primeiro programa em Assembly com uma chamada de sistema.
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* Modelo de von Neumann
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Um computador possui:
- Unidade de processamento (ALU + Controladora)
- Memória (armazenamento de instruções e dados)
- Dispositivos de entrada/saída
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#+begin_example
┌───────────────────────────────────────┐
│ UNIDADE DE PROCESSAMENTO (CPU) │
│ │
│ • Unidade Lógica e Aritmética (ALU) │
│ • Unidade de Controle (CU) │
└───────────────────┬───────────────────┘
┌───────────────────┴───────────────────┐
│ BARRAMENTO │
└───────┬──────────────────────┬────────┘
│ │
┌───────┴───────┐ ┌────────┴────────┐
│ MEMÓRIA │ │ DISPOSITIVOS DE │
│ │ │ ENTRADA E SAÍDA │
└───────────────┘ └────────┬────────┘
┌────────┴────────┐
│ ARMAZENAMENTO │
└─────────────────┘
#+end_example
A arquitetura de Von Neumann é um modelo de hardware no qual a Unidade Central
de Processamento (CPU) e a memória utilizam um espaço único de armazenamento
para guardar tanto as instruções dos programas quanto os dados. Isso significa
que a CPU acessa a mesma memória para buscar instruções e para ler ou gravar
dados, utilizando um único barramento para ambas as operações.
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Resumindo, no modelo de Von Neumann:
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- Instruções e dados compartilham o mesmo espaço de memória.
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- A CPU executa o ciclo: busca → decodificação → execução.
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Em outros modelos da época (como a arquitetura de Harvard):
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- Instruções e dados armazenados em memórias separadas.
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- A CPU executa o ciclo: busca → decodificação → execução, podendo buscar
dados e instruções em paralelo.
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** Influência nas arquiteturas modernas
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O modelo de Von Neumann influenciou profundamente as arquiteturas modernas de
computadores, estabelecendo a base para a maioria dos designs de sistemas
computacionais atuais. Algumas das principais influências incluem:
- Memória unificada ::
A ideia de compartilhar a mesma memória para dados e instruções se manteve
como o padrão em muitas arquiteturas modernas, simplificando o design dos
sistemas, embora existam variações: como a memória cache, que separa dados e
instruções em níveis mais próximos ao processador.
- Ciclo de busca, decodificação e execução ::
O modelo de Von Neumann introduziu o ciclo básico de execução de instruções,
que ainda é fundamental em CPUs modernas. As arquiteturas atuais, como x86 e
ARM, seguem esse ciclo de maneira semelhante, embora com otimizações como a
/pipelining/, onde múltiplas fases do ciclo podem ser realizadas em paralelo.
- Programação e flexibilidade ::
O modelo permite que os programas sejam tratados como dados, o que possibilita
a criação de sistemas que podem ser facilmente modificados e adaptados. Isso
contribui para o desenvolvimento de linguagens de programação de alto nível,
sistemas operacionais e aplicativos dinâmicos.
- Simplicidade e custo ::
O modelo de Von Neumann simplificou o design de computadores ao integrar a
memória de instruções e dados. Isso contribuiu para a redução de custos de
hardware, tornando os sistemas mais acessíveis e facilitando o desenvolvimento
de sistemas comerciais e pessoais.
#+begin_quote
*Nota:* A /pipelining/ (do conceito de /"linha de montagem"/) é uma técnica de
execução paralela em que múltiplas instruções são processadas simultaneamente
em diferentes /estágios/ do ciclo de execução para aumentar o desempenho da
CPU. Isso difere do conceito geral de /paralelismo/, onde /tarefas completas/, e
não estágios do processamento, são executadas simultaneamente.
#+end_quote
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** Gargalo de Von Neumann
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O gargalo de Von Neumann é uma limitação de desempenho causada pelo fato de
que a CPU e a memória compartilham o mesmo barramento para acessar instruções
e dados.
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Isso significa que:
- A CPU não pode buscar uma instrução e acessar dados ao mesmo tempo.
- O tempo de espera entre operações aumenta, especialmente em programas que
exigem muitos acessos à memória.
- A largura de banda do barramento se torna um fator crítico para o desempenho.
Esse gargalo levou ao desenvolvimento de soluções como:
- Memória cache (para reduzir acessos à RAM)
- Execução paralela e /pipelines/
- Arquiteturas modificadas (como o modelo Harvard modificado)
#+begin_quote
*Nota:* A /arquitetura Harvard modificada/ é uma variação do modelo de Von Neumann
que usa memórias separadas internamente (como em caches) para dados e instruções,
mantendo um espaço de memória unificado do ponto de vista do programador.
#+end_quote
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* Arquiteturas x86
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A arquitetura x86 é uma família de conjuntos de instruções (ISA /Instruction
Set Architecture/) baseada no modelo de Von Neumann e desenvolvida originalmente
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pela Intel a partir do processador 8086. Todas as CPUs x86 implementam (ou
emulam) o conjunto de instruções da Intel 8086 (16 bits), lançada em 1978.
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Como uma evolução prática do modelo de Von Neumann, a arquitetura x86 implementa
otimizações como:
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- Uso extensivo de memória cache.
- Execução fora de ordem (/out-of-order execution/).
- /Pipelines/ e paralelismo interno.
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** Características
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- ISA complexa (CISC /Complex Instruction Set Computing/), com centenas de
instruções e modos de endereçamento.
- Suporte a múltiplos tamanhos de palavra (16, 32 e 64 bits nas versões modernas).
- Registradores de uso geral (AX, BX, CX, etc.) e segmentados (CS, DS, SS...,
não utilizados no Linux), herdados de versões mais antigas.
- Ampla compatibilidade com versões anteriores (retrocompatibilidade).
- Utilizada em desktops, laptops e servidores, sendo a base da maioria dos PCs atuais.
#+begin_quote
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*Nota:* Embora a arquitetura x86 inclua registradores segmentados (como CS, DS,
ES, SS), o Linux não faz uso da segmentação de memória no modo protegido. Em
vez disso, ele utiliza o chamado /endereçamento plano/, tratando toda a memória
como um único espaço contínuo. A segmentação é mantida apenas em um nível
mínimo para atender exigências da arquitetura (como troca de contexto e
proteção básica), mas a segmentação lógica, como era usada no MS-DOS, é
totalmente evitada.
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#+end_quote
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** Gerações da família x86:
| Processador | Ano | Registradores | Endereçamento | Modos de operação | Destaques principais |
|----------------+------+---------------+--------------------------------+--------------------------+-----------------------------------------------------------------|
| 8086 | 1978 | 16 bits | 20 bits (1 MB) | Real mode | Primeiro da linha x86, sem proteção ou multitarefa |
| 80286 | 1982 | 16 bits | 24 bits (16 MB) | Real, Protected | Introduziu o modo protegido e privilégio de acesso por segmento |
| 80386 | 1985 | 32 bits | 32 bits (4 GB) | Real, Protected, Virtual | Registradores de 32 bits, suporte à paginação, multitarefa |
| 80486 | 1989 | 32 bits | 32 bits | Idem 80386 | Pipeline simples, cache L1, primeira versão com FPU integrada |
| Pentium | 1993 | 32 bits | 32 bits | Idem 80486 | Pipeline duplo, superscalar, introdução de MMX |
| Pentium Pro | 1995 | 32 bits | 36 bits (PAE) | Idem | Execução fora de ordem, cache L2 on-die, suporte a PAE |
| x86-64 (AMD64) | 2003 | 64 bits | 48 bits virtuais (até 57 hoje) | Real, Protected, Long | ISA de 64 bits, registradores expandidos, compatível com x86 |
A transição da arquitetura x86 de 32 para 64 bits foi liderada pela AMD com a
criação da AMD64 em 2003. Essa extensão manteve compatibilidade com o conjunto
de instruções x86 original (IA-32), mas adicionou registradores de 64 bits e
suporte a endereçamento ampliado. Posteriormente, a Intel adotou essa mesma
arquitetura sob o nome Intel 64 (anteriormente chamada EM64T), e o termo x86_64
passou a ser usado de forma genérica para se referir à arquitetura compatível
com AMD64. Assim, o AMD64 é a origem técnica da arquitetura x86 de 64 bits
utilizada na maioria dos sistemas modernos.
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** Comparativo com outras arquiteturas
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Todas as arquiteturas modernas seguem, em maior ou menor grau, os princípios
do modelo de Von Neumann. No entanto, diferem na forma como organizam e executam
instruções. Veja o comparativo:
*x86 (CISC /Complex Instruction Set Computing/):*
- Conjunto de instruções extenso e complexo.
- Instruções de vários tamanhos e com múltiplos modos de endereçamento.
- Maior consumo de energia, mas com alta compatibilidade e maior desempenho bruto.
- Retrocompatibilidade com código legado.
- Comum em PCs, laptops e servidores.
*ARM (RISC /Reduced Instruction Set Computing/)*
- Conjunto de instruções reduzido e regular.
- Foco em simplicidade, baixa energia e eficiência.
- Desempenho por watt muito superior ao x86.
- Predominante em dispositivos móveis (smartphones, tablets) e embarcados.
- ARM64 (AArch64) é a versão de 64 bits moderna.
*RISC-V (RISC e /open source/):*
- ISA aberta, modular e extensível.
- Sem royalties: qualquer um pode implementar.
- Design limpo e simples, adequado para pesquisa, educação e sistemas customizados.
- Crescimento em sistemas embarcados e processadores personalizados.
*Resumo comparativo:*
| Arquitetura | Tipo | Complexidade | Consumo | Uso comum |
|-------------+------+--------------+---------+-------------------------------|
| x86 | CISC | Alta | Alto | PCs, laptops, servidores |
| ARM | RISC | Média | Baixo | Celulares, IoT, Apple M1+ |
| RISC-V | RISC | Baixa | Baixo | Pesquisa, sistemas embarcados |
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* Componentes de uma CPU x86_64
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- Unidade de Controle (/Control Unit/ - CU) ::
Gerencia o fluxo de dados e as instruções dentro da CPU, coordenando as operações
de execução.
- Unidade Lógica e Aritmética (ALU /Arithmetic and Logic Unit/) ::
Responsável pela execução de operações aritméticas (soma, subtração, etc.) e
lógicas (AND, OR, NOT, etc.).
- Registradores de uso geral ::
Utilizados para armazenar dados temporários durante a execução de instruções
(ex.: RAX, RBX, RCX, etc.).
- Registradores de propósito específico ::
Como o ponteiro de pilha (RSP), ponteiro de instrução (RIP) e flags (como EFLAGS).
- Registradores de segmentos ::
Armazenam endereços de segmentos de memória para código (CS), dados (DS) e pilha
(SS), além dos registradores de segmentos adicionais para dados (ES, FS e GS).
- Cache ::
Memória de acesso ultrarrápido usada para armazenar dados frequentemente
acessados, visando reduzir o tempo de acesso à memória principal. Normalmente
dividida em L1, L2 e, em algumas CPUs, L3.
- Barramentos ::
Conjunto de trilhas de comunicação que transportam dados entre a CPU e outros
componentes, como a memória, dispositivos de entrada/saída e outros núcleos.
- Unidade de Execução (/Execution Unit/ EU) ::
Responsável por executar as instruções. Em CPUs modernas, pode haver múltiplas
unidades de execução para executar diferentes tipos de operações em paralelo.
- Decodificador de Instruções ::
Interpreta as instruções da linguagem de máquina (bytecode) e as converte para
operações que podem ser executadas pela ALU ou outras unidades de execução.
- Unidade de carga e armazenamento (/Load-Store Unit/ - LSU) ::
Controla o carregamento e armazenamento de dados na memória, realizando
operações de leitura e escrita.
- Unidade de Endereçamento (/Address Generation Unit/ - AGU) ::
Calcula endereços de memória, especialmente no contexto de operações de acesso
à memória e cálculo de ponteiros.
- Controlador de Interrupções (/Interrupt Controller/) ::
Responsável por lidar com interrupções externas e internas, gerenciando a
prioridade e o tratamento adequado das interrupções no sistema.
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* Principais registradores e seus propósitos (64 bits)
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- =RAX=: acumulador/propósito geral
- =RBX=: base/propósito geral
- =RCX=: contador/propósito geral
- =RDX=: dados/propósito geral
- =RSI=: índice de origem
- =RDI=: índice de destino
- =RSP=: ponteiro da pilha
- =RBP=: base da pilha
- =RIP=: ponteiro de instrução
- =RFLAGS=: sinalizações diversas
A arquitetura x86_64 ainda inclui oito registradores de propósito geral, de =R8=
a =R15=.
2025-05-17 15:13:38 -03:00
** Relação com outras arquiteturas x86
Cada um dos registradores de 64 bits pode ser dividido em partes que, de certo
modo, correspondem às capacidades de 32 e 16 bits de outras arquiteturas da
família x86. Tomando o registrador =RAX= como exemplo:
#+begin_example
┌────────────────────────────────────────────────────┐
│ RAX │ 64 bits
└────────────────────────┬───────────────────────────┤
│ EAX │ 32 bits
└────────────┬──────────────┤
│ AX │ 16 bits
├───────┬──────┤
│ AH │ AL │
└───────┴──────┘
#+end_example
#+begin_quote
*Importante:* O diagrama não mostra registradores diferentes, mas os nomes
pelos quais as subdivisões do registrador podem ser acessadas!
#+end_quote
Aplicando a mesma ideia aos principais registradores, os nomes de suas
subdivisões seriam:
| 64 bits | 32 bits | 16 bits | 8 bits "altos" | 8 bits "baixos" |
|---------+---------+---------+----------------+-----------------|
| RAX | EAX | AX | AH | AL |
| RBX | EBX | BX | BH | BL |
| RCX | ECX | CX | CH | CL |
| RDX | EDX | DX | DH | DL |
| RSI | ESI | SI | (sem acesso) | SIL |
| RDI | EDI | DI | (sem acesso) | DIL |
| RSP | ESP | SP | (sem acesso) | SPL |
| RBP | EBP | BP | (sem acesso) | BPL |
| RIP | EIP | IP | (sem acesso) | (sem acesso) |
| R8 | R8D | R8W | (sem acesso) | R8B |
| ... | ... | ... | ... | ... |
| R15 | R15D | R15W | (sem acesso) | R15B |
#+begin_quote
*Nota:* Assim como os registradores de R8 a R15, nem todas as subdivisões
existiam nas arquiteturas de 32 e 16 bits da família x86, ou seja, elas só
foram introduzidas na arquitetura x86_64.
#+end_quote
2025-05-14 11:36:15 -03:00
* Primeiro exemplo em Assembly x86_64
2025-05-14 11:32:30 -03:00
2025-05-17 15:13:38 -03:00
Apenas para apresentar a aparência de um código em Assembly, aqui está o
código de um programa que não faz nada além de terminar com o estado de
término =42=...
2025-05-14 11:43:10 -03:00
Arquivo [[exemplos/01/exit42.asm][exit42.asm]]
2025-05-14 11:42:35 -03:00
#+begin_src asm :tangle exemplos/01/exit42.asm
2025-05-14 11:32:30 -03:00
; Retorna 42 como estado de término
section .text
global _start
_start:
mov rax, 60 ; syscall: exit
mov rdi, 42 ; código de saída
syscall
#+end_src
2025-05-17 15:13:38 -03:00
O programa é pequeno, mas nos dá a oportunidade de conhecer muitos dos elementos
de um programa escrito com a linguagem Assembly.
** Seção do código executável
#+begin_src asm
section .text
#+end_src
A diretiva =section= não é uma instrução da CPU, mas uma orientação sobre como
o binário do programa deverá ser montado. No caso do exemplo, estamos dizendo
ao montador que tudo que vier depois de =section=, até que se encontre outra
definição de seção, deve ser montado na seção =.text= do binário. O nome =.text=
é uma convenção que se refere à seção das instruções do programa em si (o seu
código, essencialmente).
** O ponto de entrada
#+begin_src asm
global _start
#+end_src
A diretiva =global= diz ao montador que um determinado /rótulo/ (como =_start=)
deve ser visível fora do arquivo em que é escrito. Em outras palavras, o
símbolo marcado com =global= pode ser referenciado por outros arquivos durante
o processo de link-edição. No exemplo, =_start= é o rótulo que representa, por
padrão, o endereço da primeira instrução a ser executada em um programa ou,
como se costuma dizer, o seu /ponto de entrada/.
** Chamada de sistema
Nem todo programa em Assembly fará chamadas de sistema, que são funções
internas do kernel para diversas finalidades que envolvam o acesso aos
recursos do hardware ou controlados pelo sistema. No exemplo, porém, nós
queremos utilizar a chamada de sistema =exit= para terminar a execução do
programa retornando o valor =42= para o sistema operacional.
Para isso, nós temos que seguir as convenções de chamada, definidas pelo
kernel para a arquitetura x86_64. Essas convenções estabelecem, por exemplo,
quais registradores devem ser utilizados para receber a identificação da
chamada de sistema e os argumentos que serão passados para ela.
No caso da chamada de sistema =exit=:
- O registrador =rax= deve receber o valor =60= (identificação da chamada =exit=).
- O registrador =rdi= deve receber o valor que será retornado como estado de
término (=42=).
Sendo assim, nós utilizamos as instruções =mov= para carregar (mover) os
valores esperados (argumentos) nos registradores apropriados:
#+begin_src asm
mov rax, 60 ; syscall: exit
mov rdi, 42 ; código de saída
#+end_src
Em seguida, nós utilizamos a instrução =syscall= para informar à CPU que
ela deveria invocar a chamada de sistema definida:
#+begin_src asm
syscall
#+end_src
2025-05-14 11:44:53 -03:00
** Montagem e execução (no terminal)
2025-05-14 11:32:30 -03:00
#+begin_example
:~$ nasm -f elf64 -o exit42.o exit42.asm
2025-05-17 15:13:38 -03:00
#+end_example
O resultado desse comando é a geração de um arquivo binário que nós chamamos
de /objeto/ (com terminação =.o=). O arquivo objeto contém a tradução de todo o
código em Assembly para código de máquina e já poderia, por exemplo, ser
compilado com outros objetos para compor um programa completo, mas ainda não
é capaz de ser executado.
Para isso, é necessário submeter o objeto a diversos procedimentos finais
chamados de /link-edição/ -- no caso, com o editor de ligações =ld=:
#+begin_example
2025-05-14 11:32:30 -03:00
:~$ ld -o exit42 exit42.o
2025-05-17 15:13:38 -03:00
#+end_example
Assim, o editor de ligações =ld=:
- Resolve endereços e símbolos (como =_start=);
- Organiza o layout final do programa;
- Adiciona seções obrigatórias (como os cabeçalhos ELF);
- Produz um binário executável.
Com o binário final gerado, nós podemos executá-lo e testar seu estado
de término com:
#+begin_example
2025-05-14 11:32:30 -03:00
:~$ ./exit42
:~$ echo $?
42
#+end_example
2025-05-17 15:13:38 -03:00
Onde =$?= é a expansão do parâmetro especial do shell =?=, que registra o estado
de término do último comando executado. Então, com o valor em =?= expandido,
nós podemos imprimi-lo com o comando interno =echo=.
2025-05-14 11:36:15 -03:00
* Exercícios sugeridos
2025-05-14 11:32:30 -03:00
2025-05-17 15:13:38 -03:00
1. Antecipe-se e pesquise o que são "chamadas de sistema" (/syscalls/).
2. Modifique o programa Assembly para retornar "sucesso", segundo as convenções
do shell do GNU/Linux.
3. Por que eu usei o termo "montagem" para me referir à produção do arquivo
binário a partir do código-fonte?
4. Escreva um programa em qualquer linguagem de alto nível que reproduza o
funcionamento do exemplo em Assembly.
2025-05-14 11:32:30 -03:00
2025-05-14 11:36:15 -03:00
* Referências
2025-05-14 11:32:30 -03:00
2025-05-17 15:13:38 -03:00
- [[https://a.co/d/8Dm1Z93][Organização e Projeto de Computadores -- David A. Patterson e John L. Hennesy]]
- [[https://a.co/d/9QtcLPI][Organização Estruturada de Computadores -- Andrew S. Tanenbaum]]
2025-05-14 11:32:30 -03:00
- [[https://namazso.github.io/x86/][Intel® 64 and IA-32 Instruction Set Reference]]
- [[https://wiki.osdev.org/CPU_Registers_x86-64][OS Dev: CPU Registers x86-64]]
- [[https://blog.rchapman.org/posts/Linux_System_Call_Table_for_x86_64/][Linux System Call Table for x86 64]]
2025-05-17 15:13:38 -03:00
- [[https://www.gnu.org/software/bash/manual/bash.html#Exit-Status][Manual do Bash: Estado de Saída]]
2025-05-14 11:32:30 -03:00
- =man 2 exit=