gdb-pratico/mods/01
2025-05-03 09:45:32 -03:00
..
.gdb_history nova árvore de trabalho 2025-04-26 11:16:54 -03:00
demo.c atualização do conteúdo da parte 1 2025-05-03 09:45:32 -03:00
README.org atualização do conteúdo da parte 1 2025-05-03 09:45:32 -03:00

Curso prático de introdução ao GDB

1. Primeiro contato guiado

Objetivos

  • Entender o que é o GDB;
  • Conhecer o conceito de depuração;
  • Demonstrar o GDB em ação;
  • Apresentar uma lista de comandos essenciais.

O que é o GDB

O GDB (GNU Debugger) é uma ferramenta de depuração de programas escritos em diversas linguagens. Ele possibilita a inspeção da execução de um programa em tempo real ou após uma falha.

Principais recursos de depuração

  • Pontos de parada (breakpoints);
  • Execução passo a passo;
  • Visualização de valores e alterações em variáveis;
  • Análise de memória e registradores;
  • Inspeção da pilha de chamadas (backtrace);
  • Avaliação de expressões em tempo de execução…

Entre muitos outros.

Operação em baixo nível

O GDB opera em baixo nível e, por isso, oferece uma visão bem detalhada do comportamento interno do programa, o que o torna essencial…

  • Como uma ferramenta auxiliar para desenvolvimento;
  • Para diagnosticar e depurar erros mais complexos;
  • Em demonstrações de conceitos no estudo de sistemas.

O que é depurar (debugar)

Depuração (ou debugging) é o processo de identificar, analisar e corrigir erros (bugs) em um programa ou sistema. Durante a depuração, o programador examina o comportamento do código para entender onde e por que ele não funciona como esperado. O objetivo é encontrar a origem dos problemas e corrigi-los, até que o software opere corretamente.

Sem o auxílio de ferramentas especializadas, a depuração pode ser feita, por exemplo:

  • Com uma revisão cuidadosa do que está escrito no código-fonte;
  • Inserindo a exibição de mensagens em pontos suspeitos do código para avaliar variáveis ("o valor está correto neste ponto?") e o próprio fluxo de execução ("o programa chegou a este ponto?");
  • Com a análise manual de algoritmos, seguindo a execução do programa no código tendo em mente alguns exemplos de entrada.

Mas existem ferramentas (como o GDB) que auxiliam o processo de depuração que, sem alterar diretamente o código, oferecem formas de:

  • Definir pontos de parada (breakpoints);
  • Monitorar a alteração de valores em variáveis (whatchpoints);
  • Executar o programa passo a passo;
  • Examinar dados em endereços específicos da memória através de símbolos;
  • Examinar o conteúdo da pilha de chamadas de sistema;
  • Explorar informações sobre o processo do programa na memória…

Entre várias outras possibilidades.

Também existem ferramentas especializadas em aspectos e métodos específicos da depuração, como…

  • Valgrind: para examinar a memória e detectar vazamentos e acessos inválidos.
  • Linters e analisadores: para analisar como o código-fonte foi escrito e apontar erros de sintaxe, de estilo e violações de especificações e convenções da linguagem em uso sem, sequer, compilar (se for o caso) e executar o código.

Uma nota sobre depuração preventiva

Alguns ambientes integrados de desenvolvimento (IDE) e editores de código oferecem meios para sinalizar erros de sintaxe (a falta de um ; em C, por exemplo) ou destaques coloridos para diferentes tipos de elementos da linguagem. Muitos deles integram-se com protocolos de servidores de linguagem (LSP) para funcionarem como linters e analisadores de código em tempo real (ou seja, durante a digitação do código), o que antecipa e ajuda a evitar potenciais causas de erros.

Uma pequena demonstração

Considere o seguinte programa em C (demo.c):

#include <stdio.h>

int soma(int a, int b) {
    int resultado = a + b;
    return resultado;
}

int main() {
    int x = 10;
    int y = 20;
    int z = soma(x, y);
    printf("Resultado: %d\n", z);
    return 0;
}

Compilação com símbolos de depuração:

gcc -g -o demo demo.c

Sem os símbolos de depuração, nós teríamos que descobrir quais seriam os endereços de dados em variáveis e de outros elementos do código para inspecionar seus valores e comportamentos.

Iniciando o GDB para depuração

O GDB pode ser iniciado de várias formas para depurar programas. A mais comum, porém, é através da passagem do caminho de um binário executável como argumento na sua invocação na linha de comandos.

No nosso exemplo:

gdb ./demo

Sem a opção -q (quiet) ou sem configurações de início, o GDB exibe informações de versão e copyright antes das mensagens relativas à depuração, propriamente dita, e do prompt de seu shell de comandos…

:~$ gdb ./demo
GNU gdb (Debian 16.3-1) 16.3
Copyright (C) 2024 Free Software Foundation, Inc.
License GPLv3+: GNU GPL version 3 or later <http://gnu.org/licenses/gpl.html>
This is free software: you are free to change and redistribute it.
There is NO WARRANTY, to the extent permitted by law.
Type "show copying" and "show warranty" for details.
This GDB was configured as "x86_64-linux-gnu".
Type "show configuration" for configuration details.
For bug reporting instructions, please see:
<https://www.gnu.org/software/gdb/bugs/>.
Find the GDB manual and other documentation resources online at:
    <http://www.gnu.org/software/gdb/documentation/>.

For help, type "help".
Type "apropos word" to search for commands related to "word"...
Reading symbols from ./demo...
(gdb)

Apesar da poluição visual, essa mensagem padrão pode ser útil para iniciantes, especialmente este trecho sobre ajuda:

For help, type "help".
Type "apropos word" to search for commands related to "word"...

Ou seja…

  • Com o comando help (ou apenas h), nós teremos uma lista dos tópicos de ajuda (classes de comandos) e as instruções de uso do próprio comando help;
  • Com o comando apropos PALAVRA, nós podemos buscar comandos que casem com PALAVRA, que é interpretada como uma expressão regular (REGEX).

Terminando o GDB

Para sair do GDB, nós podemos teclar Ctrl+D ou executar quit (ou apenas q) no prompt do shell de comandos:

(gdb) quit

Omitindo a mensagem de início

A forma mais simples de omitir a mensagem de início é utilizando a opção -q na invocação do GDB:

:~$ gdb ./demo
Reading symbols from ./demo...
(gdb)

Desta forma, a primeira mensagem relevante para a depuração é a única a ser exibida antes do prompt:

Reading symbols from ./demo...

Ela diz que o nosso binário foi compilado com símbolos para depuração e que esses símbolos foram lidos e registrados. Mas, vamos sair e compilar novamente o programa para ver o que aconteceria…

(gdb) q
:~$ gcc -o demo demo.c
:~$ gdb ./demo
Reading symbols from ./demo...
(No debugging symbols found in ./demo)
(gdb)

Desta vez, sem os símbolos de depuração, nós tivemos a mensagem:

Reading symbols from ./demo...
(No debugging symbols found in ./demo)

Uma nota sobre compilação com símbolos de depuração

Normalmente, os projetos são compilados para duas finalidades: desenvolvimento e publicação (release). É na compilação em desenvolvimento que os símbolos de depuração podem ser úteis. Embora isso não cause prejuízos de desempenho, binários compilados e publicados com símbolos de depuração resultam em arquivos maiores e, dependendo do caso, podem expor informações internas sensíveis.

Isso não costuma ser relevante no contexto do Software Livre, já que o acesso aos fontes deve ser garantido, mas existem casos de programas escritos para uso interno em alguma cadeia de produção que vão requerer mais cuidados.

É possível compilar o código com os símbolos de depuração e, depois, removê-los do binário que será distribuído(strip -g), ou ainda, gerar e armazenar cópias dos símbolos em arquivos separados (objcopy --only-keep-debug), mas isso foge do nosso escopo de interesses.

Sendo assim, vamos sair e compilar novamente o nosso programa com os símbolos de depuração.

(gdb) q
:~$ gcc -g -o demo demo.c
:~$ gdb ./demo
Reading symbols from ./demo...
(gdb)

Listando o código-fonte

No GDB, podemos listar o código-fonte com o comando list:

(gdb) list
3	int soma(int a, int b) {
4	    int resultado = a + b;
5	    return resultado;
6	}
7	
8	int main() {
9	    int x = 10;
10	    int y = 20;
11	    int z = soma(x, y);
12	    printf("Resultado: %d\n", z);

Por padrão, somente 10 linhas são exibidas, mas podemos teclar Enter algumas vezes até que todo o código seja listado.

(gdb)
13	    return 0;
14	}

Chagando ao final, podemos reiniciar a listagem com list .:

(gdb) list .
3	int soma(int a, int b) {
4	    int resultado = a + b;
5	    return resultado;
6	}
7	
8	int main() {
9	    int x = 10;
10	    int y = 20;
11	    int z = soma(x, y);
12	    printf("Resultado: %d\n", z);

Ponto de parada e execução

Nós podemos definir pontos de parada com o comando break:

(gdb) break main
Breakpoint 1 at 0x115b: file demo.c, line 9.

Assim, quando o programa for executado (com o comando run), a execução será pausada nos símbolos definidos como pontos de parada:

(gdb) run
Starting program: /home/blau/tmp/gdb/demo
[Thread debugging using libthread_db enabled]
Using host libthread_db library "/lib/x86_64-linux-gnu/libthread_db.so.1".

Breakpoint 1, main () at demo.c:9
9	    int x = 10;

Neste exemplo, o ponto de parada é a função main, e nós vemos a próxima linha a ser executada (linha 9). Para avançar para as próximas linhas, nós podemos executar o comando next:

(gdb) next
10	    int y = 20;

A linha 9 foi executada e a próxima será a linha 10. Se quisermos continuar executando o comando next, basta teclar Enter imediatamente em seguida:

(gdb)
11	    int z = soma(x, y);

Neste ponto, as variáveis x e y já foram carregadas e nós podemos conferir seus valores com o comando print:

(gdb) print x
$1 = 10
(gdb) print y
$2 = 20

O resultado de cada avaliação é armazenado no GDB em uma variável especial numerada ($n) de acordo com a ordem da avaliação.

A próxima linha a ser executada será a linha 11, onde temos a chamada da função soma. Se executarmos next novamente, a função será executada e nós iremos para a linha seguinte na função main. Mas nós também podemos entrar na função soma e acompanhar a sua execução passo a passo com o comando step:

(gdb) step
soma (a=10, b=20) at demo.c:4
4	    int resultado = a + b;

Aqui, nós podemos inspecionar os valores de a, b e do valor inicial de resultado, antes da linha 4 ser executada:

(gdb) print a
$3 = 10
(gdb) print b
$4 = 20
(gdb) print resultado
$5 = 0

Com o comando next, nós avançamos na função e já podemos exibir o novo valor de resultado:

(gdb) next
5	    return resultado;
(gdb) print resultado
$6 = 30

Se, a partir daqui, nós quisermos executar todo o restante do programa, basta executar comando continue:

(gdb) continue
Continuing.
Resultado: 30
[Inferior 1 (process 214693) exited normally]

Para sair do GDB…

(gdb) quit
:~$

Opções de início do GDB

Comando Descrição
gdb --help Listas todas as opções de linha de comando com uma breve explicação.
gdb Iniciar o GDB sem arquivos para depurar.
gdb PROGRAMA Inciar o GDB para depurar PROGRAMA.
gdb PROGRAMA DESPEJO Inciar o GDB para depurar PROGRAMA e salvar o conteúdo da memória no arquivo DESPEJO.
gdb --args PROGRAMA ARGUMENTOS Iniciar o GDB para depurar PROGRAMA passando ARGUMENTOS.
gdb PROGRAMA -d DIR Iniciar GDB para depurar PROGRAMA utilizando DIR para localizar os fontes.

Comandos Básicos

As próximas tabelas listam os comandos mais relevantes para quem está começando a aprender a utilizar o GDB, mas tenha sempre em mente que há muitos outros comandos e funcionalidades.

Sair do GDB

Comando Descrição
quit ou q Sair do GDB
Ctrl+D Terminar o shell de comandos (sair do GDB).

Informações

Comando Descrição
help ou h Exibe ajuda e tópicos relacionados a um dado comando.
apropos REGEX Busca comandos segundo a expressão regular REGEX.
show DEF Exibe informações sobre a definição de configuração DEF do depurador.
print, inspect ou p Imprime o valor de uma expressão.
info, inf ou i Exibe informações relacionadas ao programa sendo depurado.
x/FORMATO ENDEREÇO Examina o conteúdo da memória em um dado ENDEREÇO no FORMATO especificado.

Arquivos

Comando Descrição
file ARQUIVO Utiliza ARQUIVO como caminho do executável e fonte de símbolos.
exec ARQUIVO Utiliza ARQUIVO apenas como caminho do executável a ser depurado.
symbol ARQUIVO Utiliza ARQUIVO apenas como fonte de símbolos.
dir DIR Adiciona DIR ao início da lista de caminhos de busca por códigos-fonte.

Execução

Comando Descrição
run ou r Inicia a execução do programa com uma lista opcional de argumentos.
kill Mata a execução do programa sendo depurado.
continue ou c Continua a execução após uma condição de parada.
step ou s Executa a próxima linha do programa, mesmo que esteja numa função ou sub-rotina.
next ou n Executa a próxima linha do código sem entrar em funções ou sub-rotinas.
jump ou j Salta a execução do programa para uma localização dada na forma de um endereço ou de uma linha.

Pontos de parada

Comando Descrição
break ou b Define o ponto de parada em um dado endereço, número de linha ou símbolo.
watch EXP Define uma parada para observar alterações de valores na expressão EXP.
catch EVENTO Define uma parada na ocorrência de um dado EVENTO.
i breakpoints Lista informações sobre todos os pontos de parada.
del [IDs] Deleta todos os pontos de parada ou os pontos de parada identificados pelo número ID.

Inspeção da pilha de execução

Comando Descrição
backtrace ou bt Exibe todos os quadros de chamadas de funções na pilha.
info frame [SUBCOMANDO] Exibe informações sobre o quadro de pilha selecionado ou, com SUBCOMANDOS, possibilita a especificação de um modo de seleção.

Informações sobre processos

Sintaxe geral:

info proc [SUBCOMANDO][PID]

Onde:

  • SUBCOMANDO: uma informação específica sobre um dado processo.
  • PID: número de identificação de um processo qualquer.

Se PID não for informado, será utilizado o PID do programa em depuração.

Comando Descrição
info proc [PID] Exibe a linha de comando, o diretório corrente e o caminho do executável do processo.
info proc all [PID] Exibe todas as informações disponíveis sobre o processo.
info proc files [PID] Lista todos os arquivos abertos pelo processo.
info proc mappings [PID] Lista todas as regiões de memória mapeadas para o processo.

Modos de exibição

Comando Descrição
tui enable Entra no modo TUI.
tui disable Sai do modo TUI.
layout asm Entra no modo TUI com a janela da desmontagem do programa em assembly.
layout src Entra no modo TUI com a janela do código-fonte do programa.
layout regs Entra no modo TUI com as janelas de registradores e de código-fonte ou de desmontagem do programa.
layout split Entra no modo TUI com as janelas de código-fonte e desmontagem do programa.
layout next Muda para o próximo layout TUI.
layout prev Muda para o layout TUI anterior.
tui new-layout NOME DEFINIÇÃO Define um novo layout customizado.

Notas:

  • Nós podemos alternar o modo TUI com o atalho C-x a;
  • Todos os comandos layout ... são abreviações de tui layout ...;
  • Todos os layouts TUI padrão são compostos por janelas, uma barra de status e uma janela de comandos;
  • Nós podemos circular pelas janelas do modo TUI com o atalho C-x o;
  • Os layouts customizados não são salvos entre sessões do GDB, mas podem ser definidos nos seus arquivos de início.

Exemplo de layout customizado:

(gdb) tui new-layout only-regs regs 1 status 0 cmd 1
(gdb) layout
List of tui layout subcommands:

tui layout asm -- Apply the "asm" layout.
tui layout next -- Apply the next TUI layout.
tui layout only-regs -- Apply the "only-regs" layout.
tui layout prev -- Apply the previous TUI layout.
tui layout regs -- Apply the TUI register layout.
tui layout split -- Apply the "split" layout.
tui layout src -- Apply the "src" layout.

[...]
(gdb)

Outras combinações de teclas para o modo TUI:

Teclas Descrição
C-x 1 No layout split, exibir apenas a janela selecionada.
C-x 2 Utiliza pelo menos duas janelas no modo TUI.
C-l Redesenha as janelas no modo TUI.